Dupla função e Sub-função de motorista Junior

Falando sobre a dupla função e motorista Júnior

Olá pessoal! 
Hoje eu gostaria de abordar um assunto polêmico, porém relevante que é a dupla função e a sub-função “motorista Júnior” e suas consequências.

Precisamos discutir esse tema mais a fundo, pra tentarmos encontrar uma solução, pois do jeito que está não dá mais!

A desculpa para a criação da sub função "motorista Júnior" que foi dada pelos empresários em meados de 2003 é que a partir dela os cobradores teriam oportunidade de crescerem profissionalmente passando de cobradores para motoristas, mas isso não é verdade, eu conheço uma dezena de colegas que, em anos anteriores, passaram de cobradores para motoristas sem terem de se tornar motoristas Junior e eu sou uma dessas pessoas. Em 2001 comecei como motorista de ônibus direto como profissional "pleno", antes eu era cobrador da empresa Transportes Barra e, como não tive oportunidade de passar para motorista lá, fui buscar essa oportunidade em outras empresas, conseguindo assim na Viação Braso Lisboa. Por isso eu digo que essa desculpa que eles (os empresários) dão é extremamente ridícula, pois eles sempre deram oportunidade aos cobradores passarem para motorista, até porque se não dessem, eles hoje acabariam ficando sem profissionais, já que está ficando cada dia mais difícil encontrar quem queira trabalhar nessa profissão devido aos baixos salários, as más condições de trabalho e desvalorização da classe. Na verdade o que eles fizeram foi aumentar os próprios lucros em detrimento do desemprego de milhares de cobradores, pais e mães de famílias, que tiravam seu sustento do ônibus.

O que me chama a atenção é que, mesmo eles tendo aumentado e muito seus lucros com a demissão desses milhares de colaboradores, o serviço continuou péssimo com ônibus velhos ou mal conservados, que não tem regularidade, entre outros problemas, fazendo a população sofrer muito.

Outra coisa que chama a atenção também é o fato dos empresários, acabando com a função de cobradores/as, aumentaram o trabalho dos profissionais diminuindo o salário (no caso dos motoristas Junior) ou continuaram com o mesmo salário de antes (no caso dos profissionais plenos) que antes trabalhavam com cobradores sem se preocuparem com o dinheiro da empresa, fazer troco, etc. Seria o mesmo que dizer: “É MAIS POR MENOS” rsrs...Essa frase é muito utilizada pelos lojistas de maneira positiva, ou seja, você leva mais produtos por menos dinheiro, já no caso dos rodoviários o sentido foi invertido, você leva mais trabalho por menos dinheiro no seu bolso. rsrs....Eu sou extremamente contra a demissão desses milhares de cobradores mas, se ao abolirem essa função, inserissem no salário dos seus motoristas (que passaram a cobrar também) o valor que pagavam aos cobradores , tenho certeza que muitos cobradores iriam procurar se qualificar para  se tornarem motoristas também, até para manterem seus empregos, com certeza eles iriam querer ser “motoristas/cobradores” de ônibus, mas os empresários simplesmente tiraram os cobradores e jogaram todo o trabalho nas costas dos pobres motoristas e isso é um ABSURDO sem tamanho. Eles falaram mais ou menos assim para os seus motoristas: TOMA QUE O FILHO É TEU! 

Olhando pelo lado da segurança no trânsito, podemos citar como exemplo alguns artigos do CTB como o Art. 252 inciso V que fala sobre dirigir usando apenas uma das mãos ao volante e o Art. 252 inciso VI que fala sobre dirigir falando ao celular, rendendo ao infrator uma multa de R$ 85,13 e 4 pontos na carteira em ambos os casos. Agora fica a pergunta: Porque se dirigir segurando o volante com apenas uma das mãos ou falando ao celular geram multas por serem infrações de trânsito, os motoristas podem dirigir e cobrarem passagem? É uma tremenda contradição vocês não acham? Mas acredito que se todos os motoristas, ao pararem nos pontos, esperassem cobrar as passagens de todos os passageiros, esperassem todos se acomodarem pra depois começarem a andar com os ônibus, seria a melhor maneira de protestar contra a dupla função, e o melhor, sem cometer nenhuma infração de trânsito, consequentemente não dariam elementos para represálias por parte das empresas. Sem sobra de dúvida essa atitude correta traria um certo "caos no trânsito", até porque todos sabem que os pontos de ônibus em geral, devido seu tamanho reduzido, não suportariam tantos ônibus parados ao mesmo tempo, principalmente na hora do rush, sem falar que os motoristas são cobrados quanto aos horários e quantidade de passageiros no fim do expediente e acabam, erroneamente, cometendo diversas infrações de trânsito para alcançarem essas metas pré-estabelecidas pelas empresas, e para essas situações infelizmente as autoridades fecharam os olhos, porque será? Só uma mobilização da classe rodoviária poderia fazer as coisas mudarem ou pelo menos melhorarem, esse " protesto pacífico" faria a população se solidarizar de alguma com a causa da classe rodoviária. Isso é o certo, mas irreal, por causa da falta de união dos próprios rodoviários.

A Prefeitura e os órgãos competentes iam se ver obrigados a recuar ou então criariam soluções para facilitar ainda mais o trabalho dos motoristas como: restringir a utilização de dinheiro vivo nos ônibus e disponibilizando a venda de bilhetes de passagem em qualquer estabelecimento comercial. Isso seria bom pra todo mundo, o cliente, tendo disponível mais opções de locais para compra de bilhetes, o motorista, que não precisaria mais exercer duas funções e até para as empresas com a agilidade gerada por essa automação.

*Abrindo um parêntese aqui:

(Existia uma empresa aqui no Rio de Janeiro, mais precisamente na Zona Oeste, que se chamava Algarve/Oeste, quando estava em funcionamento, ela simplesmente acabou, de uma hora para outra com a função de cobrador de ônibus, ou seja, passou a não existir mais essa função na empresa, isso mesmo! O pior é que mesmo eles tendo tido um lucro exorbitante com o fim dessa função, não investiram nada em melhorias para os motoristas que ficaram nela, também não investiram na frota “modal’ que ficou sucateada. Na época eles investiram pesado nos chamados “frescões” que custavam aproximadamente 3 vezes mais que os convencionais sem dar nenhum conforto a mais por isso, apenas um ar condicionado que geralmente não dava vazão, mas o pior é que tudo isso foi feito com a conivência da Prefeitura do Rio de Janeiro. Os ônibus dessa empresa não tinham manutenção, na maioria deles não funcionavam os faróis, lanternas, luzes do salão etc. Os mesmos rodavam com pneus carecas, faltando janelas, para-choques quebrados etc. Eles não tinham como dizer que a empresa estava no vermelho pois só a economia que tiveram ao retirar os cobradores seria suficiente para melhorarem os seus serviços, mas não, eles só pensavam em LUCRAR, LUCRAR E LUCRAR!
OBS: 

Essa empresa fechou as portas em 2016 alegando dificuldades financeiras, mas o exemplo que citei serve para outras empresas também...)

Continuando o raciocínio 

Falando um pouco sobre a questão saúde podemos dizer que a profissão de motorista de ônibus está entre as mais estressantes do mundo e que mais afasta o profissional do volante das suas funções devido ao stress e com o acúmulo de funções esse stress aumenta consideravelmente. 

Problemas de coluna devido à má postura e os movimentos repetitivos também estão entre as causas de afastamento do trabalho.

Pense:

Os micro-ônibus sempre existiram, mas quem trabalhava neles eram os motoristas profissionais, ganhando o mesmo que os demais que trabalhavam em carros convencionais, até porque o menor tamanho do ônibus era compensado pela dupla-função e nesse caso eu até concordava já que, no passado, eram poucas as linhas que operavam com esse tipo de veículo.  Os empresários são tão espertos que foram diminuindo ao longo dos anos (através de acordos meio que obscuros com as montadoras), o tamanho dos ônibus, que ficaram conhecidos como “micrões”

que, na prática, transportam a mesma quantidade de passageiros que os ônibus convencionais e os motoristas que os operam ganham a mesma coisa que ganhariam trabalhando somente como motorista e muitas empresas colocam os motoristas Junior para operá-los ganhando menos ainda e infelizmente os colegas, na ânsia de dirigir veículos maiores ou por medo de perder seu emprego, acabam aceitando dirigi-los. 
Hoje a coisa já está mais escancarada, os motoristas já operam veículos convencionais de 13 ou 14 metros sem cobrador. Como eu disse anteriormente, as empresas foram aumentando aos poucos o tamanho dos ônibus para que houvesse uma aceitação e uma adaptação dos motoristas em relação a dirigir e cobrar.

Não acredito que um motorista de ônibus possa ter um bom rendimento no trabalho, dirigir de forma segura, exercendo essas duas funções simultaneamente e que são completamente distintas. 

Conclusão:

Entendo que o progresso é algo que não podemos evitar, é pra frente que se anda, mas da forma como está sendo implementado esse progresso, sobrecarregando os motoristas, sem pagar por isso, é que não está correto. Todo profissional precisa de um estímulo e com certeza, um bom salário é um tremendo estímulo. Algo precisa mudar, ninguém trabalha de graça, nem relógio. 

Compartilhem...

Um abraço a todos!

Waguinho Guitar